Quatro cooperativas de catadores e catadoras de materiais recicláveis de Diadema contam com mulheres na presidência ou nos coletivos de gestão.
No mês da mulher, temos muito que refletir sobre a questão de gênero no mercado de trabalho. Em que pese dados que apontam o distanciamento entre a renda média das trabalhadoras e dos trabalhadores e uma pequena representação das mulheres nos postos de comando nas empresas brasileiras, nos empreendimentos de economia solidária de Diadema as mulheres estão em peso à frente desses coletivos. É o caso das cooperativas de catadores e catadoras de materiais recicláveis. Quatro dos cinco empreendimentos do segmento são comandados por mulheres: a Cooperfênix, a Cooperlimpa, a cooperativa Guerreiros do Chico Mendes e a Nova Conquista.
Maria Mônica Silva, 49 anos, está na presidência da Cooperfênix desde 2016 quando o espaço, localizado no Taboão, passou a funcionar com reciclagem de materiais, depois de um período de abandono. Desde que iniciou na vida profissional, foi catadora. “Com a catação criei os cinco filhos biológicos e um de coração”. Hoje faz de tudo na cooperativa: “fico, na mesa de triagem, faço articulação, busco benefício para a cooperativa, participo das reuniões com o governo, […] eu tenho muito amor à minha profissão. E muito orgulho de ser catadora, não me veja fazendo outra coisa. É uma profissão muito legítima e importante”, destaca. Sobre o papel das mulheres na catação, Mônica lembra da resiliência feminina: “quando vêm as crises nas cooperativas, geralmente os homens vão embora, e quem segura são as mulheres”, finaliza.
Patrícia Frazão Santos, 43 anos, é a presidenta da Cooperlimpa, localizada no Jardim Inamar. Ela trabalha há 21 anos na cooperativa. Hoje, seu maior desafio é procurar garantir uma boa remuneração aos cooperados. “O preço do material está caindo muito e temos que partir para cima. Hoje estamos em 19 pessoas, nove mulheres, e tiramos uma média mensal entre 1.500 e 1.800 reais. Só de saber que existem pessoas que se unem por uma causa nobre e saber que no final do mês o suor do trabalho de cada um vai ser a renda dela e sustentar a família dá um orgulho danado”, comemora.
Ali perto, quem comanda a cooperativa Guerreiros do Chico Mendes é Luciana Ferreira, 45 anos, catadora há 14 anos. Ela conta que a cooperativa acabou de ser regularizada e está há pouco mais de um ano no comando da entidade, que tem grandes desafios pela frente: “Além de fazer o nosso trabalho de catação na rua, a gente orienta a população e faz um trabalho ambiental”. Luciana vê muitas barreiras no mercado de trabalho, por isso a cooperativa é uma saída. “Para a mulher tudo é mais complicado. Sendo mãe solo, preta, favelada, tendo filho ou cuidando de alguém é muito difícil entrar numa empresa. Todas aqui vivem essa situação. A Joice cuida da avó, eu sempre cuidei dos três filhos, quatro agora com minha netinha, tem a Simone que sempre foi mãe solo. Então você bate a cabeça aí fora, fica um período, mas não é acolhedor como a cooperativa. E eu faço jus à oportunidade que tive de trabalhar como catadora”, revela.
A Nova Conquista também conta com mulheres à frente da cooperativa, mas não há um presidente. A gestão é colegiada, formada pelos 10 catadores. “Tanto as mulheres quanto os homens trabalham e decidem juntos”, explica Maria Benedita Faria, 54 anos, que integra o coletivo há dez anos. As quatro cooperativas contam com cerca de 50 cooperados, sendo 24 mulheres.
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